Como reagem a família da jovem adolescente?
Dra. Adriana Lippi Waissman é médica obstetra do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo, especializada em gravidez na adolescência.
Como reagem os familiares?
Drauzio – Qual costuma ser a reação dos familiares quando a adolescente engravida?
Adriana – É sempre um choque. Pai e mãe consideram a filha ainda uma menina que há pouco tempo deixou de brincar de bonecas e também estão aprendendo a lidar com sua adolescência, mas acima de tudo são pais e acabam aceitando o fato. Parece que as mães têm mais facilidade para enfrentar a situação talvez porque muitas também tenham engravidado adolescentes. Na verdade, mais ou menos metade das mães passou por essa experiência o que torna o problema menos complicado para as filhas: “Minha mãe tinha 13 ou 14 anos quando eu nasci, por isso não vai poder falar nada”. Para o pai o choque é maior, mas ele também acaba se habituando com a idéia.
Drauzio – Uma coisa interessante é esse medo das adolescentes em relação ao pai. É comum ouvi-las dizer: “Ah, se meu pai souber, ele me mata”.
Adriana – Nunca mata. Do ponto de vista psicológico, geralmente elas têm um relacionamento um pouco mais distante com o pai. Metade das adolescentes se refere a um conflito maior com o pai do que com a mãe. O fato de parte das mães ter vivido a mesma experiência funciona como consolo para elas.
Alguns pais podem ser mais radicais e eventualmente ameaçam expulsá-las de casa, o que às vezes acontece e elas vão viver com outros parentes. O que se percebe, porém, é que depois que a criança nasce, eles mudam de comportamento.
Em geral, como reagem os pais das adolescentes grávidas? Existe um trabalho também com a família na Casa do Adolescente?
Houve uma mudança: os pais hoje raramente expulsam as filhas de casa. Num primeiro momento ficam bravos, criticam e, depois, mantêm uma cobrança contínua. Apesar dos pais hoje “aceitarem” isso não garante que os pais sejam parceiros nessa gravidez. O trabalho que é feito na Casa do Adolescente com a família é justamente discutir o processo de gravidez na adolescência, como será esse apoio, preparar os pais para que eles não culpem e cobrem os adolescentes, mas que ajudem nessa fase. É discutida a importância de voltar à escola, de facilitar que os adolescentes tenham um grupo de amigos, possam fazer atividades, dividam as tarefas e não fiquem o tempo todo sendo rotulados. Isto vai fazer com que a adolescente se sinta segura, possa exercer suas atividades de mãe, previna uma segunda gravidez e possa se relacionar com ela e com o mundo numa perspectiva de um futuro feliz.